SOBRE O MURAL – RAÍZES RECÔNCAVAS

Raízes Recôncavas – UFRB

O mural Raízes Recôncavas se refere à cultura do Recôncavo Baiano, uma região do Brasil que foi povoada há muitos séculos, tendo raízes históricas que se conectam ao próprio “descobrimento” das terras brasileiras pelos portugueses em 1500. São muitas as cidades que compõem o Recôncavo, cada uma com características bastante singulares, o que proporcionou um leque bem amplo de referenciais.

Guiado pelas professoras da UFRB Ticiana Osvald e Fran Demetrio, pude conhecer um pouco das particularidades da região em cidades como Cachoeira, Santo Antônio de Jesus, São Félix, Cruz das Almas. O resultado dessa coleta de referenciais expressa a diversidade da cultura e das atividades econômicas, a ancestralidade e os tipos populares emblemáticos do interior da Bahia.

Entre as figuras principais, podemos ver três em destaque, ocupando o primeiro plano do painel: Uma senhora segurando folhas medicinais (à esquerda), outra segurando um pote de barro (no centro) e um cacique Tupinambá (à direita).

No segundo plano à esquerda encontramos figuras ligadas ao comércio, como o feirante, a vendedora de acarajé e o estivador, e tipos ligados às ruas como os capoeiristas e a cigana, além da figura da parteira ao pé da árvore trazendo ao mundo um novo rebento. Todo esse grupo está circundado por bandeirolas de São João, a maior festa da região, e no poste central a figura de Santo Antônio, padroeiro da cidade onde o painel foi realizado. À direita, vemos uma representante da Irmandade da Boa morte, uma porta típica da região cujo arabesco sugere um Adinkra africano, Dona Rita da Barquinha equilibrando um navio na cabeça, a lira representando as filarmônicas tão estimadas dessas cidades, e um garoto brincando com uma lamparina.

Na parte superior do painel temos uma grande copa de árvore repleta de rostos diversos, uma homenagem aos alunos e alunas da UFRB. Também há uma representação do Rio Paraguaçú, um dos principais do Recôncavo Baiano, além de paisagens de casebres, morros e escadarias. No centro superior, uma entidade com rabo de sereia e a espada para o alto, simbolizando o casamento entre os elementais: fogo e terra, água e ar.

Abaixo, você pode ver com detalhes algumas estruturas da composição do painel, ou CLIQUE AQUI para mais fotos.

“Uma mulher preta do Reconvexo que, ao se olhar no espelho, enxerga suas raízes Recôncavas. Recôncavo baiano… Onde outrora seu povo fora plantado e regado com sangue, suor, lágrimas, Amor, azeite de dendê, samba de roda e água salgada de mar. Esse mar da Bahia que se confunde com o céu; e que guarda, na Baía de Todos os Santos, os seus protetores. Seus orixás… Os orixás dos seus pais… Dos seus avós… Dos seus bisavós… Dos seus. 
Axé!

Mulher preta que se olha no espelho da arte e se vê nos olhos de Caetano, Gil, Bethânia, Maria Quitéria, Ana Nery, Cira de Itapuã, Caymmi, Rubem Valentim e nos olhos de todas as mulheres da Irmandade da Boa Morte.
Mulher preta, nordestina, parida das terras da Bahia, gerada neste útero de cultura onde o Sagrado e o Profano se misturam, recebida nos braços da parteira e benzida com as ervas desta terra de todos nós.
Saravá!

Como não se emocionar e transbordar de encantamento ao encarar o seu próprio reflexo e de todos os seus irmãos (vivos, mortos, conhecidos e desconhecidos) por entre linhas, cores e pinceladas?! Como não transbordar de emoção quando a sua alma olha para dentro de você?! 
Eu pergunto a ti e a mim. 
E que nos murais da vida… a Espada de São Jorge e o Cobra Coral nos proteja. 
Amém!”
Texto de Dheyse Lima , aluna da UFRB

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