Um Cadáver Inquieto

A exposição “UM CADÁVER INQUIETO” aconteceu em Dezembro de 2003 na Casa da Cultura da América Latina, com curadoria de Élder Rocha. Participaram : Adriana Cascaes, Alice Magalhães, Alexandre Junior, Daniela Estrela, Gustavo Magalhães, Leopoldo Wolf, Luis Marques, Luis Olivieri, Marilia Saenger, Patrícia Gladys, Pedro Sangeon,Thaís Catunda e Tiago Botelho.

Para essa coletiva, apresentei um tríptico intitulado “Cabras de Peia”, uma das primeiras expressões da minha linguagem pictórica após o Barcharelado em Artes Visuais. Nessa época, estava especialmente interessado por três artistas: Van Gogh e seu fascínio pelo empastamento, a feitura dos tons, a espátula e a linhaça. Yves Klein, pela ambição de criar objetos arrebatadores, como um Big-Bang sensorial, imediato, incontornável até para o olhar mais cético. E Giacometti, por um rigor formal que elimina todos os elementos acessórios, almejando alcançar a essência da estrutura imagética.

Texto Curatorial – por Elder Rocha

Muitas vezes a morte da Pintura foi anunciada; a cada grande crise como a invenção da fotografia, o fim da figuração ou o fim do abstracionismo é anunciado que ela chegou ao fim. Entretanto, a Pintura sempre respondeu bem à situações críticas. A invenção da fotografia pode ser citada como um dos fatores que gerou a pintura moderna,assim como o fim da abstração ajudou a gerar a pintura heróica dos anos 80.

A Arte é sobre a aquisição de liberdades e nunca sobre o cancelamento delas, é um veículo da história na luta do homem pela liberdade de pensamento e expressão”

Elder Rocha

Não há razão para a Pintura ocupar um lugar central na Arte como aconteceu no Modernismo, porém também não há razão nenhuma para qualquer outro meio de expressão ocupar este lugar. Vivemos o momento da multiplicidade, da simultaneidade, do multiculturalismo, da aldeia global, da compreensão da infinita variedade cultural através da informação rápida, da necessária coexistência das diferenças que um planeta superpovoado gera.

A permanência milenar da pintura, porém, não deve indicar a simples manutenção dos limites históricos e tradicionais deste meio de expressão; não há razão para que a pintura se contenha. A observação da Arte Contemporânea pode revelar que a classificação por categorias se tornou obsoleta e artificial e os diferentes meios não se colocam como oposições, mas como campos vizinhos sujeitos a contaminações e superposições,em um processo de contínua expansão, gerando significados sempre novos.

Devemos nos preparar para uma nova Pintura que não se satisfaz em ser vista de uma só forma, mas de muitas formas simultaneamente;e para um espectador que não é “tabula rasa” mas carrega consigo memória, cultura, história pessoal e emoções circunstanciais. É verdade que a longa história da Pintura muitas vezes foi entendida como um peso, um fardo a carregar, porém hoje os artistas que lidam com os meios de expressão mais recentes ( vídeo, instalação etc) têm de lidar com as próprias histórias acumuladas de seus meios de escolha.

Pode-se pensar que a Pintura oferece mais, não somente a carregar, mas a trabalhar,comentar ou negar. O fardo torna-se material. Apesar das críticas ainda resta uma questão: o que faz com que a Pintura seja eternamente atrativa para os artistas?


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