Como encarnar o etéreo? – Taigo Meireles por Tiago Botelho

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Como encarnar o etéreo? É possível atribuir uma forma humana ao que não se pode tocar?

Perante esse desafio, Taigo Meireles dá seu mergulho mitológico no tradicional oficio da pintura. Para o artista, o corpo é um mensageiro de fenômenos espirituais absolutos. Não está atrás do circunstancial, não lhe interessa ambiguidades. Busca nas posturas de seus modelos a exata sensação que persegue, dando estrutura – através do desenho vigoroso – aos seus próprios assombros e paixões, transformando a observação em ato sagrado, em sacro-oficio.

O artista faz uso de vocabulários pictóricos com rigor, extraindo de cada um deles o grau máximo de suas intensidades. Estes vocabulários ora entram em fusão, ora se isolam na composição em comentários certeiros sobre as múltiplas possibilidades da técnica.

Desta forma, Taigo instala uma armadilha para o olhar, pois do mesmo modo que guarda muito bem os segredos da pintura figurativa, também revela-os sem receio. Oculta e transmite simultaneamente, como se quisesse deixar rastros num labirinto.

taigoÉ preciso capturar a pulsação essencial da criação, convertendo-a em signo do enigma que a originou. Signos que recordem o assombro do pintor diante do vazio da tela. É preciso capturar aquilo que não pode ser descrito apenas por idéias, nem apenas por imagens, nem por palavras e nem por gestos, mas única e exclusivamente pela transmutação destes componentes em um fenômeno integral, pois apenas juntos dotam a pintura de sua mais plena potencialidade.

Assim, o carvão e a tinta se fundem em imagens com múltiplas interpretações, conferindo a pintura o status de lugar para perpetuação dos mistérios.

O texto “Como encarnar o etéreo”  foi escrito por mim para a exposição do artista e amigo Taigo Meireles, intitulada “Eros & Psique”.

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