Permanências
A série Permanências é uma reação ao sentimento de falta de sentido em fazer Arte neste mundo cada dia mais automatizado pelas redes sociais, pelos algorítimos e pelos estereótipos da vida perfeita. A própria figura do artista se tornou um produto em si mesmo, muitas vezes até mais relevante que sua própria obra. O vício no ciclo dopamínico, aliado ao frenesi da polarização política, tem resultado em uma decadência da sensibilidade humana, reduzindo a criação poética a meros impulsos visuais que não duram mais de dois segundos nas telas dos aparelhos celulares.
Nesse contexto, para que criar? Quais temáticas seriam capazes de superar a vacuidade dos tempos atuais, onde a Arte passa a ser mais uma distração, em vez de causar encantamento e despertar questões de ordem filosófica?
Gradualmente, as figuras desta série foram se estabelecendo plenas de nostalgia, como símbolos de uma época já inexistente. Os cenários, as faces e as posturas corporais apontam para uma mesma direção: a saudade. Por mais diversas que possam parecer, todas as imagens de Permanências estão circunscritas na devastação dos mitos da contemporaneidade, a falta de fé nos deuses, o cansaço diante de tanto narcisismo requentado.
O processo de construção dessa série ambiciona expressar o indivíduo ciente de sua própria irrelevância, desprendido de todas as camadas culturais, ideologias políticas e entusiasmos identitários, uma vez que todas essas instâncias foram sumariamente cooptadas pela máquina capitalista. Os semblantes desses retratos apresentam olhares melancólicos, perplexo diante da sensação de fim dos tempos, paralisadas em um instante que jamais deveria ter acontecido.