Rasteiros
“Rasteiros” tem como inspiração as miudezas da terra: galhos, frutos, pedras, arbustos, insetos, ossos e folhas. Através deles, exercito a observação pura da realidade, sem saber exatamente quais serão os elementos representados, uma vez que as obras se tornam abertas a adições de novos elementos a cada passeio pelos arredores do meu ateliê.
O resultado é uma figuração com múltiplos pontos de referência, sem que nenhum deles se sobressaia aos demais. As cenas funcionam como uma espécie de metáfora sobre o cosmos, parodiando Hemes Trimegisto: “O que está em cima é como o que está embaixo”
Dou respeito às coisas desimportantes
e aos seres desimportantes.
Prezo insetos mais que aviões.
Prezo a velocidade
das tartarugas mais que a dos mísseis.
Tenho em mim um atraso de nascença.
Eu fui aparelhado
para gostar de passarinhos.
Tenho abundância de ser feliz por isso.
Meu quintal é maior do que o mundo.
Sou um apanhador de desperdícios:
Amo os restos
como as boas moscas.
trecho de “O apanhador de desperdícios” – manuel de barros