Cuba e os centros de cultura comunitária

Não é de hoje que Havana vem sendo tomada por espaços culturais, em lugares antes destinados à indústrias e fábricas, além de imóveis desocupados por problemas de estrutura. O governo cubano passou a facilitar a posse destes imóveis para grupos de artistas dispostos a transformá-los em núcleos de produção cultural com enfoque na comunidade, e o resultado está saindo melhor que o esperado. Célebre pelo potencial turístico desde os tempos dos cassinos da década de 40 e 50, Havana fechou suas casas de jogos após a Revolução, e agora se reinventa apostando nos espaços comunitários de cultura. Durante minhas duas estadias por lá, pude visitar alguns deles. Nesses locais, o socialismo cubano adquire contornos de uma espécie de anarco-bairrismo, surpreendente tanto para moradores de todas as idades quanto para os turistas mais exigentes.
Confira:

MURALEANDO (LAWTON)

Muraleando é responsável por manter várias atividades culturais que enriquecem o cotidiano do bairro de Lawton. De aulas de dança a oficinas de arte, de shows musicais a cursos infantis, o projeto conta com um excelente restaurante, e recebe turistas do mundo inteiro, interessados pela tendência cada vez mais forte dos centros culturais comunitários que pipocam por toda Cuba. Os artistas integrantes do projeto utilizam-se das mais diversas técnicas para ornamentar os muros do bairro com criações ora coletivas, ora individuais.

Além disso, também recebe artistas convidados de outros países, o que transforma a região em uma espécie de galeria a céu aberto. Premiado em 2014 como o melhor projeto nacional de cultura comunitária, Muraleando é um ótimo exemplo de como a cultura pode intervir positivamente na construção da cidadania, já que os moradores de Lawton deixam de ser meros espectadores e passam a atuar também como artistas, auxiliando na execução dos murais.


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MUSEU DOS ORISHAS (GUANABACOA)

Localizado em um dos bairros mais antigos de Havana, Guanabacoa já era habitada pelos nativos do Caribe antes mesmo da chegada dos colonizadores espanhóis, sendo posteriormente convertida em reduto das populações de matriz africana, em um tempo em que Havana praticava uma forte política segregacionista, antes do triunfo da Revolução. Talvez por isso, Guanabacoa exale ancestralidade por todas as esquinas. O vínculo com as tradições espirituais se torna evidente ao visitarmos o Museu Municipal, também conhecido como Museu dos Orishas, onde as principais linhagens afro-cubanas são contempladas no acervo, como a Irmandade Abakua, os mistérios do Palo Monte, os encantos da Regla de Ocha.

O museu realiza apresentações de cunho folclórico com fortes influências da cultura dos terreiros, além de receber grupos especializados em turismo patrimonial, como o recém-formado  AFRO-CUBAN CULTURE GUIDE  uma galera especializada em guiar turistas norte-americanos afro-descendentes, que descobriram em Cuba um vínculo com suas raízes culturais talvez impossível de experienciar nas grandes cidades cosmopolitas como Nova Iorque, Chicago ou Boston.


CALLEJÓN DE HAMÉL

Assim como Guanabacoa, o Callejón irradia africanidade por todos seus recônditos, ainda que as influências das santerias cubanas venham acompanhadas de uma mescla de elementos cosmopolitas meio pop-art, meio arte povera, expressas nas inúmeras paredes repletas de poesias e desenhos de Salvador Gonzales Escalona, o artista idealizador do projeto. O que destaca o beco de outros locais similares é a pérgula “Nave do Ouvido’ local onde acontece as apresentações do grupo feminino Rumba Morena, além de shows periódicos com bandas ligadas ao movimento rastafári.
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ESTUDIO KCHO (ROMERILLO)

O espaço cultural de Kcho mantém aulas regulares de balé, ateliê de xilogravura, sala de exposições, biblioteca, teatro e uma popular zona de wi-fi grátis para a população do bairro de Romerillo, convertendo-se em um local de encontro para os jovens da região. Kcho é um artista renomado no exterior, e com o dinheiro ganho com a venda de suas pinturas e instalações, incrementa cada vez mais os muitos pontos de cultura que aos poucos vão se espalhando pelas arredores de seu estúdio. Uma de suas façanhas recentes foi fazer uma parceria com a Google, garantindo equipamentos de qualidade e conexões mais estáveis para a ainda lenta internet cubana.
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CASA DE FUSTER ( JAIMANITAS )

Fortemente influenciado por Gaudí, o artista Fuster tratou de transformar o bairro de Jaimanitas em uma espécie de parque temático povoado de símbolos da cultura cubana, como camponeses, sereias, galos e peixes feitos com cacos de azulejo. Seus devaneios artísticos contagiaram a juventude local, e hoje o bairro conta com diversos aprendizes que exercitam seus talentos artísticos pelos muros da redondeza. O bairro, outrora praticamente desconhecido dos turistas pela falta de atrativos, começa a acolher lojas de suvenires, restaurantes e cafés, embalados pela revolução pictórica que Fuster e seus alunos promovem todos os dias entre as esquinas de Jaimanitas.
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HAVANA VELHA

Havana Velha não é um centro cultural como os que foram acima citados, mas o bairro acolhe tanta arte e tanta gente que resolvi homenageá-la com imagens de algumas esculturas e prédios históricos que se pode apreciar numa simples caminhada.
Destaque para o Palácio dos Capitães Generais, o Gran Teatro de La Habana, o Capitolio, a escultura de José Martí no Parque Central, o Edifício Bacardi, o legendário Caballero de París, os monges fantasmagóricos do hotel Los Frailes, a sinistra estátua de Frei Junípero, o estilo Art Nouveau do Hotel Raquel, além de tantos outros lugares históricos dessa cidade que completará 500 anos de existência.

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