Degredados Filhos da Pátria

Essa é uma das pinturas mais ambíguas que já criei, para um painel em um dos auditórios da Faculdade de Ciências das Saúde da Universidade de Brasília.

Inicialmente intitulada de “Viva o Povo Brasileiro”, a pintura pretendia homenagear a diversidade cultural e a riqueza do nosso folclore. Mas as mudanças no cenário sócio-político do país acabaram por alterar o foco do trabalho, principalmente após a promulgação da PEC 241, que congelou os gastos públicos da Saúde e Educação pelos próximos vinte anos, tornando-se o prelúdio do colapso civilizatório que viria a assolar o Brasil nos anos seguintes.

Assim, o painel alterna figuras festivas, como a porta-bandeira, o bumba-meu-boi, o cavaleiro do Divino e o sanfoneiro, com representantes das minorias históricas, as etnias indígenas e afrodescendentes, os retirantes, os sem-teto, os indigentes, a população sertaneja, os profissionais da coleta de resíduos urbanos como emblemas desse Brasil que ninguém quer assumir a responsabilidade do cuidado.

Não me convidaram
Pra esta festa pobre
Que os homens armaram
Pra me convencer
A pagar sem ver
Toda essa droga
Que já vem malhada
Antes de eu nascer

Não me ofereceram
Nem um cigarro
Fiquei na porta
Estacionando os carros
Não me elegeram
Chefe de nada
O meu cartão de crédito
É uma navalha

Brasil
Mostra tua cara
Quero ver quem paga
Pra gente ficar assim
Brasil
Qual é o teu negócio
O nome do teu sócio
Confia em mim


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