Muraleando em Cuba

Em Abril de 2018, tive a honra de participar das festividades de 10 anos do premiado projeto “Muraleando”, cuja sede ocupa uma enorme construção cilíndrica outrora destinada ao armazenamento de água potável para o legendário bairro de Lawton, onde o herói revolucionário Camilo Cienfuegos Gorriarán passou a maior parte de sua vida antes da guerrilha.

Foram três espaços em que trabalhei. O principal deles foi uma grande parede de esquina, onde desenhei, por sugestão de um grupo de muralistas mexicanos que também participavam do evento, uma composição repleta de figuras aludindo as culturas ancestrais dos povos que constituíram a América Latina.

Após concluir o mural principal, participei da revitalização de uma das praças externas do espaço cultural, preenchendo um dos bancos mais frequentados pela comunidade com meus desenhos.

Em seguida, já no meus ultimos dias em Havana, fui convidado a pintar a parede de uma casa da vizinhança, pois os projetos culturais cubanos se caracterizam pela adesão maciça dos moradores.

10 de Octubre – A “Cuba real”

Um diferencial dessa temporada em Cuba foi o envolvimento mais aprofundado no cotidiano dos havaneiros, em especial aqueles que vivem bem distante dos badalados pontos turísticos de Havana Velha.

Em Muraleando, os artistas encaram o fazer criativo como uma jornada de trabalho equivalente a qualquer outra profissão. Através dessa rotina ao mesmo tempo descontraída e rigorosa, pude me aproximar do cotidiano da “Cuba Real” – é assim que os cubanos se referem aos bairros periféricos, localizados ao longo da extensa Avenida 10 de Octubre.

Nestes lugares, a força revolucionária da ilha torna-se mais evidente através de uma solidariedade infelizmente rara no mundo contemporâneo. Convites para almoços, oferta de caronas, dinheiro para o ônibus, presentes espontâneos, cafezinhos, picolés, doces e tantas outras singelezas comprovam que a Revolução Cubana não perdeu a ternura.

Um exemplo disso foi Edgard, um tenente da polícia, aposentado, cantor e tocador de Maraca da banda Tiempo, que me ajudou ao longo da semana inteira enquanto eu vencia o desafio de pintar o mural na esquina de uma íngreme ribanceira, impossível de instalar nem andaime, nem escada.

Não fosse por sua atitude, dificilmente teria condições de fazer um trabalho tão coeso. Isso demonstra que a união entre as pessoas pode ser maior que qualquer técnica ou talento individual.

IMAGENS

AGRADECIMENTOS: Romildo Gastão, Ministério das Relações Exteriores, Pimentel, Vitor Pargas, Milagros Tarrafa, Vitor Ochoa, Raul Mitclán, Edgard, Luis e Isabel, Alexandre Lobaina e todos os artistas participantes do projeto Muraleando

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