Todos os Corpos São Dignos

TEXTO EXPLICATIVO

Como é possível que uma religião, cujo Messias foi injustamente preso e torturado, siga legitimando discursos de ódio em pleno século XXI? Porque pessoas com deficiências físicas e mentais só são valorizadas socialmente quando demonstram possuir capacidades fora do comum, tal como Stephen Hawking e Bispo do Rosário? E porque nossa cultura valoriza tanto a obra de Bispo, como objetos de arte, mas segue marginalizando o culto aos Eguns, de origem africana?

Um país onde o gado bovino tem mais espaço que as pessoas. Onde as florestas são devastadas, a fauna extinta, a bio-diversidade aniquilada em nome de uma única espécie: o Boi. E depois de tudo, matamos também o Boi. E também nos vemos no direito de declarar a extinção sumária de uma planta, a Cannabis, ignorando seus benefícios farmacológicos e manufatureiros, mesmo que para tal seja necessário manter um sistema penal permeado de injustiças. Sistema esse que perfila batalhões de soldados, desumanizados, sem rosto nem opinião, treinados apenas para obedecer ordens. Não seria a Tropa de Elite a nova face dos centuriões romanos, tão estigmatizados nos Evangelhos, tão idolatrados na contemporaneidade? As chagas de Jesus Cristo escorrem nas lágrimas da pobre mãe que perde seu filho por uma bala perdida, em mais uma “guerra contra o tráfico”, que no fim, torna-se pretexto para o gradual extermínio do povo das favelas.

A favela é o nosso Vietnã diário, contudo, sem a maquiagem cinematográfica capaz de comover a opinião pública. Na “Favela Vietnã” os heróis não são hollywoodianos, os mártires não ganham estátuas, o sangue não é de tinta e os tiros não são de festim. Já o menino de Aleppo – vítima de um ataque igualmente brutal – esse se torna símbolo urgente de paz, em uma sociedade mais empática com o que passa na TV do que a realidade em si.

E, se por um lado, nosso mundo segue insensível ao sofrimento, por outro, aparenta estar cada vez mais indignado com as liberdades individuais, seja pelo viés de gênero, das sexualidades não hegemônicas, das especificidades dos corpos que não se encaixam na indústria da beleza, nem nos padrões de normalidade, seja por vontade própria ou por circunstâncias congênitas.

Não seria essa a nova revolução que a humanidade está prestes a viver? Liberdade, Igualdade e Fraternidade não apenas para alguns. E por isso a bandeira Trans flamula no horizonte de casebres, erguida como o signo de um preceito indispensável: Todos Os Corpos São Dignos.


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